Naqueles olhos de piscina cristalizado, vidrado, parado, ele ainda pode ver a alma acolhedora que partira. No peito dela uma flor vermelha, com o centro um ponto pequeno preto metálico, ia se abrindo. Enquanto o corpo avermelhava por fora, empalidecia por dentro. Ele, com os olhos fundos e sem lágrimas, era paralisado pelo sentimento que lhe invadia, uma dor imensa que só quem realmente ama sabe o que significa. Enquanto o corpo empalidecia por fora, avermelhada por dentro.
A partir daquele dia, não haveria mais dia para ela, não haveria mais sentido para ele. Enquanto a morte lhe molhava tentando lhe dizer: " Levante-se, sua história não acaba aqui!" O líquido amarelado na garganta descia queimando. "Da minha história só sei eu!" E a cada cerveja tomada ele ficava mais sóbrio, mais sério.
O céu estava tão cheio de estrelas como ele nunca havia visto, ou seria seus olhos embaçados que via as luzes dos prédios, carros e postes pequenas lá da cobertura? Lá só o vento lhe dava os conselhos certos e em súbita conversa muda as palavras soavam só: " O que te prende aqui? O que te faz continuar?". Daria um passo a frente, para eternidade. Não podia esperar mais... E que não esperasse!
Naqueles olhos de piscina cristalizado, vidrado, mas não parado, ele ainda pode ver a alma acolhedora que não partira. No peito dela a flor já secara. E outra flor se formava lá embaixo ao redor de um corpo sem valor, e ao redor dele, vários corpos anônimos se amontoavam para ver o fim do espetáculo. Atrasados, não viram a apresentação toda, mas suas caras de espanto demostravam que se vissem a história inteira teriam gostado.
- Tão novo o rapaz...
- Por que tal desventura?
- Coitados da família!
- Que azar...
- Morreu de quê?
- Dizem que morreu de amor.