sábado, 5 de julho de 2008

Contra a correnteza

Não sei ao certo como se conheceram, mas lembro-me bem daquele dia.

Ela o viu ali sentado, sozinho. Pousou ao seu lado, sem o menor ruído. Pôs-se a observar. Desenhava coisas que ela não conseguia entender, mas também não perguntava. Apenas observava.

Ele gostava daqueles olhos verdes, atentos, a tentar decifrar o que talvez só os dele conseguissem ver.

~~
Complexo demais.

Que nada.
Tão simples que ninguém conseguia enxergar.

~~

Não suportava quando lhe perguntavam: "O que você quis dizer com este desenho?"
Ora pois!
Não quizera dizer, estava dito!
Cabia ao leitor interpretar.
Mas isso não vem ao caso. Voltemos aos olhos verdes.

Sem dizer palavra alguma, conversaram por horas. Aquele olhar ficaria na mente por muito tempo. Parecia entender seu desespero, sua dor. E estaria sempre lá, para ouvir, acalmar, confortar.

Ele sentia algo diferente. Um gosto, um cheiro, um sei lá o que. Era estranho e bom. Como um arrepio, daqueles que se sente quando se está em perigo, ou quando o carro desce de vez o viaduto. E era constante. Durava tanto quanto os verdes ímãs atraíssem os seus olhos.

~~
Tinha olhos de metal.
~~

Ficou agarrado àquela visão, como nunca acontecera antes. Aquilo era muito forte e parecia capaz de destruir qualquer coisa que pudesse impedir sua existência.

~~
Sonhou.
E não foram os lábios o que desejou.
Tampouco os seios, as coxas.

Queria aqueles olhos,
Aquele convite a um universo até então desconhecido.
~~

É uma pena não ter passado de um sonho.
Sabia que acordaria, então simplesmente sonhou um pouco mais.
E mais.

Mas era hora de partir.
As pernas pareciam não concordar, mas ela precisava ir.
E tão silenciosa quanto ao chegar, se foi.

~~
Sua pequena utopia nunca deixou de o ser.

E a alimentava a cada encontro.
Um forte laço mantinha viva essa vontade.
Apenas a vontade. Tornar real estragaria a brincadeira.
~~


5 comentários:

Bruna monteiro disse...

isso daria um livro [3]

fernanda disse...

tem coisa q é melhor enquanto desejo que enquanto realidade.

e, nem sei pq, isso me lembra um poeminha de drummond:

Gastei uma hora pensando em um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.

Ph disse...

Essa foi a parte que eu mais gostei: "Ela o viu ali sentado, sozinho. POUSOU ao seu lado, sem o menor ruído. Pôs-se a observar."

Depois disso eu me perguntei até o fim se ela era uma borboleta ou um pássaro.

Bruna monteiro disse...

hum...

Bruna monteiro disse...

Não suportava quando lhe perguntavam: "O que você quis dizer com este desenho?"
Ora pois!
Não quizera dizer, estava dito!
Cabia ao leitor interpretar.
Mas isso não vem ao caso. Voltemos aos olhos verdes

essa foi a parte que eu mais gostei, perguntaram pra mim o que minha exposição de fotografia queria dizer. Eu ignorei a pessoa ¬¬
urrrgth! ja ta tudo ali, a obra tem vida própria, é tão difícil entender isso? :~~

e gostei mais ainda do " sem mais delongas" voltemos ao olhos verdes.