domingo, 30 de novembro de 2008

Kaiak Ventura




E em uma manhã qualquer ela decidiu. Sim, havia decidido há tempos, mas, ah, como ela era covarde! Tentaria convencê-lo da sua decisão, mas não era convincente ou talvez ele fosse teimoso demais. " Você não me liga, não vem me ver mais, você acha que realmente me ama?" E a resposta dele era sempre a mesma: Sim.Incondicionalmente. Porém ela não desistia, reclamava de cada ato dele e odiava, principalmente, aquele perfume que, por mais que ela falasse, ele nunca deixava de usar. Kaiak ventura. Foi por esse perfume que ela se apaixonou, e por ele que ela agora sentia mal-estar.

Se conheceram numa festa, coisa normal, como todos os casais comuns. Logo namoraram, riram, choraram, cresceram, foram ao cinema de mãos dadas, e, como toda história de amor, estavam chegando ao fim. Marcaram para se ver na sorveteria, às 14h. Ele estava decidido, ela confusa. Ela era um pouco impulsiva e colocava a culpa no horóscopo. Queria ser rápida e direta. Ela abriu a boca pra falar, mas, ah, como ela era covarde! Se calou, chorou. Ele a abraçou. E, como sempre, disse: sim? Não, não dessa vez. Não sei se foi porque a tarde estava com cheiro de morango ou por que o sol brilhava forte, mas o fato foi que pela primeira vez ele não fez como sempre. De tanto ela tentar o convencer que ele não a amava mais, ela conseguiu. " Você estava certa: isso não é amor. Você teve muita paciência comigo, obrigado. E desculpa ter atrapalhado a sua vida." As lágrimas cessaram.

Às vezes, é preciso tropeçar para saber onde está o seu alicerce. Às vezes, o passado é uma lembrança tão linda que seria um erro confudi-lo com o presente ou futuro, e o mais sensato é guardá-lo. Às vezes, somente às vezes, o sempre nem sempre é sempre e a surpresa nos bate na porta, e não estávamos a esperando, paralisamos. Poderia ter falado algo? Poderia ter sido diferente?

Ela foi andando para casa pensando naquele rapaz de olhos de vagalume, tão encantador. Teria sido o contidiano que a cegou ou teria sido aquele cappuccino? Talvez ela tenha se arrependido, talvez ela tenha ficado tranqüila. O que se sabe é que até hoje ela treme ao sentir o cheiro do kaiak ventura.

sábado, 29 de novembro de 2008

caê-em-canto

" Lembro com muito gosto o modo como ela se referia a ele. Pelo menos ela o fez uma vez e isso ficou marcado muito fundo, dizendo: caetano, venha ver o preto que você gosta. Isso de dizer o preto, sorrindo ternamente como ela o fazia, o fez, tinha, teve, tem, um sabor esquisito, que intensificava o encanto da arte e da personalidade do moço no vídeo.

Era como se se somasse àquilo que eu via e ouvia, uma outra graça, ou como se a confirmação da realidade daquela pessoa, dando-se assim na forma de uma benção, adensasse sua beleza.

Eu sentia a alegria por Gil existir, por ele ser preto, por ele ser ele, e por minha mãe saudar tudo isso de forma tão direta e tão transcendente. Era evidentemente um grande acontecimento a aparição dessa pessoa, e minha mãe festejava comigo a descoberta." do livro "Verdade Tropical" de Caetano Veloso



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caê sempre encantando.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

" SOBRE ESCREVER

Às vezes tenho a impressão de que escrevo por simples curiosidade intensa. É que, ao escrever, eu me dou as mais inesperadas surpresas. É na hora de escrever que muitas vezes fico consciente de coisas, das quais sendo inconsciente, eu antes não sabia que sabia. "

C.L.

sábado, 22 de novembro de 2008

o que francisco me causa.

É um livro e um blog. Para Francisco, (http://www.parafrancisco.blogspot.com/). Francisco nasce dois meses após a morte súbita do pai, e a mãe cria o blog para desabafar e manter a imagem de Gui, o pai, viva para o filho.

“Que absurdo as coisas durarem mais do que as pessoas”.
É difícil manter as pernas firmes, quando a realidade nos aparece tão clara. Tudo é tão vivo. Como pode simplesmente não existir mais?
E é tudo, tudo verdade. Engraçado como nossa vida é apenas uma história qualquer pra quem olha de fora. Se a gente contar, as pessoas pensam que é ficção.


- e assim fico pensando o que é isso que sinto no meu peito, que é tanto que nem cabe, mas que não consigo passar completamente.

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desculpe, eu precisava mudar esse blog, ele estava muito pálido.
é preciso de cor, é preciso de sangue, é preciso amor.

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Luz, LUz, LUZ , L U C A S, obrigada por ter me mostrado esse blog, obrigada por fazer parte da minha vida.