segunda-feira, 30 de junho de 2008

É assim mesmo

É mais ou menos nessas condições: o roteiro nunca é criado, mas está sempre sendo escrito, surge quando o espermatozóide entra no óvulo. A partir desse momento o que vai nascer não é escolha da pessoa, pelo menos no mundo que Deus criou.
A direção é o médico, Deus, o paciente - e os outros - que dão; a produção é o que faz o bebê se desenvolver - todos os cuidados dos diretores e outros mais - a mãe, e o Beetovenn que o pretenso ser escuta – o pai também ajuda às vezes, dependendo de sua erudição e amor.
Na hora do parto começa a edição, que só termina no último suspiro. Uma edição mal feita pode trazer graves problemas para si mesmo e para os outros, se for precoce ou tardia pode prejudicar todo o desenvolvimento do ser. Alguns nem ligam pra essa edição, fazem-na inconscientemente, outros não a realizam por efeito do medo ou da raiva, e existem ainda os que por muito pensar acabam por se esquecer de auto-editar-se diariamente. Em meio a tudo isso o novo ser recebe críticas e aplausos, e vai assim, entre tropeços e andanças, criando sua única, própria e extraordinária identidade.
Adaptado
- fizeram de um jeito seu e eu coloquei do meu -
perdoem os deslizes e esquecimentos!

terça-feira, 24 de junho de 2008

descobertas de domingo

Eu estava almoçando na casa de uma amiga e por um motivo que nem mesmo a gente entendeu chegamos em uma conversa que disparei: " é que toda casa tem uma porta que só o dono consegue abrir, com aquele macetezinho. " E assim paramos. Pensamos. Olhamos. Engraçado como pequenas coisas nos unem. Por mais estranhas, diferentes, ridículas e odiavéis que as pessoas possam ser. Por mais que uma adore andar descalça, chuva fina, suco de maracujá com leite e morem mais de um Atlântico de distância. Mesmo que seja rock, punk, harecrisna, homo, bi, espanhola, africana: sempre teremos uma coisa só nossa que ninguém conseguirá desvendar e justamente isso será o nosso elo invisível de união, a nossa semelhança. Assim não importa o que somos ou o que escolhemos ser, somos sempre um, somos sempre todos, somos sempre singular. Como a porta da nossa casa, que só nós sabemos o jeito de abrir.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Disposições

Ela era alta, esguia e impertinente. Ele quase não a aturava. E se digo quase é porque ela ainda era alta e esguia. Arrisco bonita. Arrisco bem bonita. E nem assim ele a aturava um pouco mais.
Era uma quota: ela era alta, esguia e bem bonita, e ele a aturava até ali. De resto, ela não lhe aparecesse falando aquelas coisas dela, que ele não tinha paciência! Por isso o quase de antes.
Bem, eu já disse que ela era impertinente. E era mesmo. Tinha uns jeitos, uns olhares, umas conversas... e ele sempre olhando de lado: ninguém agüenta isso, meu deus! E ela lá. Impertinente do mesmo jeito.

Um dia ele disse: eu não lhe agüento!

Ela era impertinente: é claro que ficou por isso mesmo.
Ou melhor, não ficou. Ela já sabia que ele não a agüentava. E por isso mesmo que ainda estava por ali: era alta e esguia, podia se dar àquele luxo. Além do mais, tinha seus prazeres maliciosos e suas vaidades: sabia até onde ele a aturava, então puxava a corda.
Ele se achava um tolo. Um idiota? Antes um estúpido. Estúpido aturando ela. Ou não a aturando. Dá no mesmo. Continuava sendo estúpido: ela continuava ali.
E ela adorava secretamente, ou nem tão secretamente assim, quando ele curvava uma ruga no rosto: eu não lhe agüento! Um dia ela arriscou dar uma risada. Ele ficou vermelho, vermelho e... ah!, era um estúpido. E ela era impertinente.
Se ela gostava, um pouquinho que fosse, dele, ninguém sabe. Ou pelo menos eu que não sei. Pra você dá no mesmo. O que eu sei, o que se sabe, é que ela gostava muito de si mesma: era impertinente, alta e esguia. Deus deu o pão a quem tinha dentes. Ficava sendo justo.
Ele podia não gostar dela de verdade, mas gostava de conveniências. Então ficava gostando dela até onde ela era adequada.
E ela sabendo daquilo ria-se, ria-se muito. Que ele ficasse vermelho, mais um triunfo para ela colecionar.
E nisso gastaram não sei quanto tempo. Arrisco muito.
Mas um dia ela quis ser menos impertinente. Porque, não me perguntem. Vai ver acordou com os olhos na lua e pensou: amanhã eu quero ser alta, esguia e agradável, quem sabe. Eu não sei.
O fato é que, dessa vez, ela não sabia o como da coisa. Olhava para ele, se a ruga aparecia não olhava mais. Falava com ele, se a ruga aparecesse não falava mais. Tentava e acabava dando trégua. Até que se convenceu: a ruga não aparecia quando ela era só alta e esguia. Ah, e bonita.
Mas não bastava! – para ela, é claro. Ficava faltando alguma coisa. E ainda podia tentar a impertinência, se não tivesse acordado com os olhos na lua.
Ele ficou pensando: está mais impertinente que o normal! Ah, que ninguém agüenta isso!
Ela era adivinha. Adivinhou que com ele não conseguia nada além daquilo.

E foi embora.

Dizem que ele sente saudades. Acho que sim.

domingo, 1 de junho de 2008

Ensaio sobre o amor

" Nós amamos a idéia de amar alguém, o que é inatingível.Quando não conseguimos, desistimos e seguimos em frente."

Em geral dividem o amor em três: amor eros [ carnal ], amor filia [mãe e filho, irmãos, amigos] e amor fati. [ amor ao destino].Pra mim é um erro confundir amor e paixão. Amor eros é paixão, e tem fim: logo não é amor. Quando você diz " eu te amo". Você não está mentindo. Você sente amor por aquela pessoa e diz isso para que ela saiba. Assim, provavelmente, ela ficará perto de você e saberá o quão é estimada. Você a trata bem, para ela ficar bem e conseqüentemente, você também se sente bem, feliz. Pouto tempo depois o amor parece ser maior. O amor cresceu? Amadureceu? O amor está dividido em níveis? Era realmente amor o que você sentia quando disse da primeira vez? O que é amor?

" Sair de si por três minutos, isso é amor" (Cazuza)
A melhor definição que já vi. É sentir algo tão esplêndido e efêmero que chega a ser irreal. A ponto de você se perguntar se está realmente ali, se realmente aquela pessoa é tua e como você pode sentir tal imensidão. O amor é a descoberta e não palavras. é você se descobrir a cada dia por aquela pessoa. Por mais que você fale com a pessoa ela sempre tem algo pra lhe contar e te surpreender. "O bom de conhecer pessoas é que um dia ela pode te apresentar a você mesmo" (trecho do filme waking life).

Atingir o inatingível, incessantemente, infinitamente. Isso explica por que a amizade dura, por que o laço entre mãe e filho é tão forte, e por que existem casais que se conhecem e morrem juntos. O amor é eterno.