segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Sinopse

Perdida no paraíso proibido do amor vivia só, o amor para ela era um segredo guardado. Nunca havia beijado, não de verdade, sem nenhum acordo comercial implícito, seu primeiro beijo foi um carrasco ladrão, perdeu-se a virgindade, o espírito e a salvação.
Por muito tempo tentou viver acompanhada, achava em Carolina sua fiel amiga, até que esta a traiu. E o rubro sangue teve que ser derramado, em pleno dia, ninguém se preocupou, pois, naqueles tempos, nem o governo tinha isso na lista de suas prioridades. Elisa era má, mas não perversa, não ela louca, mas a normalidade passava longe de sua personalidade, no nascer foi amada. No crescer, foi linda por muito tempo, e então morreu. E passou a viver vagando rancorosa com sigo e com Deus para sempre.
Talvez esse fosse seu erro, se esquecer de Elisa, viver só, tendo como objetivo de sua existência assassinar todos aqueles que não agradassem Fonseca. Seu amante abstrato, seu irmão magoado, sua sombra peregrina, seu maior amor-medo. Elisa lutou contra Fonseca, resistiu, mas era fraca, sempre foi, deixou... ele a tomou, escondeu-a dentro de uma casca, mudou sua alma e a fez esquecer de tudo o que tinha aprendido. Elisa ficou nua, e Fonseca a vestiu de trapos velhos e sujos, que a velha Elisa lavava toda manhã. Mas a tarde vinha e Fonseca a tomava e seguiam - se noites de sono e melancolia, em que o espírito da menina moia-se nos muros, nas cidades, nas tabernas...
todos se conformaram com a simplória e alva feição, os cabelos castanhos e os olhos sem expressão, que nada diziam e tudo falavam.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

ímpeto

Faz 3 dias que eu não durmo e foi nesse ar de
dormindo-acordada que o fato aconteceu. Eu estava na parada de ônibus, comendo Doritos,
quando começou a tocar uma (não) música alta onde eu
me lembro de ter escutado algo como: " faz assim que
eu gosto, faz assim e eu me enrosco". Sim, era um
brega. E dos piores. Nesse momento, lembrei que levava na bolsa a minha
salvação: meu MP4. Salve, salve os fones de ouvido,
me livrando do resto do mundo. Salve, salve Placebo,
que começou a tocar nos meus ouvidos.
*
Sentei perto da janela, o vento no meu rosto trazia
uma sensação de leveza e compreensão. Me senti
protegida, sabe? Há coisas que sentimos, sabemos que
está lá, mas não há palavras para descrevê-las, e nem
precisa.
*
Quando eu fico com sono, meus olhos ficam apertados
querendo fechar, assim, os postes passavam rápido
parecendo estrelas, e os faróis dos carros dançavam
formando constelações. Se você quiser,pode tentar, é
só apertar os olhos e ver uma lâmpada, a estrela
estará lá, esperando você a notar.
*
Os passos dados, não eram passos, pois eu não pisava
nada. Eu tinha asas, e isso não era tudo. As
guitarras ainda tocavam, o salgado na boca me
mostrava a razão, descendo pela faringe, sendo
empurrado pelo esôfago, sendo meticulosamente
mergulhado num ácido e digerido no estômago. E a luz,
a luz me dizia o que eu queria ouvir. Transcedi,
transfigurei, enterneci. Senti um alegria efêmera,
que eu ia me afogando lentamente. Como essas pequenas
coisas me fizeram me sentir tão bem? Por que nunca
havia a sentido antes?
*
Esqueci das provas, dos fins, das viagens, das
saudades. Esqueci até mesmo de Jobim e da festa que
eu iria ter no sábado. Vivi apenas o instante. O
instante onde as estrelas era tocáveis, estavam tão
perto que quase cegava, tudo se derretia. Não havia
desespero, medo, amor, futuro. Havia apenas o
instante: belo, intenso, finito.
*
A bateria do meu MP4 acabou, as guitarras, mudas,
se partiram em pedaços empoeirados, o salgado na boca
incomodava. E a luz, a luz me dizia que o devia ser
dito. Quanto mais tempo dura a ilusão, maior é o
baque ao ver a verdade. Crua, simples. Cadê as
guitarras? O salgadinho acabou. Os olhos
lacrimejavam, a realidade é dura demais para ser
mostrada, assim, sem nenhuma preparação. Sinto que
foi até uma covardia ela aparecer assim.
*
A noite é um véu escuro que nos protege do real, ela
é profunda, sincera. No amanhecer, ele começa a ser
retirado e o vermelho que se faz no céu já anuncia:
perigo. Por instantes o sol tenta nos cegar até que o
véu, com pena dos humanos, é posto novamente, para
eles descansarem do seu fardo: viver. Mas o que isso tudo realmente importa?

Prefiro minhas estrelas artificiais.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

NÃO
Me é
dado saber quando ou como,
Poucos souberam e eu sei.
Mas apesar da contramão do entre tanto
Por ventura e porém,

Fez-se. E fez.

.cronos. e ...Theos...

No transe profundo por séculos
dormimos conscientemente,
amando e temendo
um quase tudo
que criaram OS ESPERTOS
que podiam.
(e puderam)

Num ponto de nós mesmos,
superfície do abismo de luz e ignorância,
inocência e humanidade,
fomos nos tornando estrelas pequeninas,
explodindo em esplendor e segurança

ou caminhando com um pássaro roubado
que nos escondeu na realidade sem rumo.

E
contamos, sem um mínimo de sabor,
cada detalhe de incerteza ou veracidade,
ficando
acompanhados
do riso
sem dentes
e alegria
de gritos.