sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Dois lados

Povo:
– Ele prometeu. Sim. Jugou-nos tolos. Não vemos novas casas. Não vemos estradas. Não vemos escolas. Como estamos nós? Sós. Tudo mentira. Tudo mentira.
Mas ele pagará pelo que fez, nem que seja com seus dentes de ouro. Engolirá todo o lixo, até que os ratos emagreçam. Até que as moscas fujam. Até que os gatos morram. Sua carne tornar-se-á comida para aqueles que precisam, e sua boca será selada, para que suas mentiras sejam esquecidas.
Procuremos, então, por aquele que a todos pede e a ninguém paga. Que entrem-lhe vermes pela boca até que o tempo pare. Que seus olhos ceguem até que a chuva cesse. Até que as lágrimas cessem. E sejam esquecidas.
Sim. Ele desliza por entre nossas mãos, mas sua pele queimará em brasa até que os dias tornem-se noite. Que o sangue deslize por entre os corredores de sua casa. Feneça. Feneça.
E assim seguimos. Com fogo nos olhos e nas mãos. À procura da esperança que se esconde nas florestas do deserto infindo de nossos corações.

Político:
– Não finjo que não menti. Fujo. Imaginei-me mais esperto que todos. Não fui. Errei. Mas o tempo corre como o rio, em única direção. Somente espero que a areia escoe por essa ampulheta invisível que se derrama em cima de nós.
Que as chamas tornem-se cinzas. Que o lixo torne-se pó. Que as lágrimas tornem-se sal. E que o feito se desfaça.
Pessoas tolas que me amaldiçoam não passam de ratos famintos aos meus olhos. Que o chão desfaleça sob seus pés. Que esse choro acabe sem mais tardar.
Fujo. Vou para longe. Espero não voltar. E ser esquecido.

7 comentários:

Bruna monteiro disse...

Fujo. Vou para longe. Espero não voltar. E ser esquecido.

minha sugestão seria mudar o final para: fujo para longe, fingo que não é comigo e sou esquecido. Volto e me torno novo rei.

por que é isso que acontece no final, eles nao esperam nao voltar eles SEMPRE voltam. Collor, Roberto Jefferson dão um tempinho fora da mídia e só por que tem ' boa' aparencia ou fama ( mesmo que ruim ) são re elegidos ¬¬


- que país é esse? ♪

Anônimo disse...

hum... concordo com o comentário anterior...eles sempre voltam e conseguem.

Parabéns, Bruna. você tá escrevendo muito bem!!!

beijos

Tulle n jazz disse...

é a porra do brasil.

Tulle n jazz disse...

ah, paulo leminski me invade completaprofundamente :}
incrível.

não só ele como chacal, cacaso, ana cristina césar, francisco alvim, todos esses da poesia marginal.

amo muito. :*

Sombra disse...

"Que seus olhos ceguem até que a chuva cesse. Até que as lágrimas cessem. E sejam esquecidas."
Issa imagem tá incrível! Muito bem escrito mesmo!

Mas tenho q concordar com vcs: eles sempre voltam! É incrivel como nós, brasileiros, temos memória curta, ou melhor, uma espécie de amnesia seletiva, que apaga somente erros como esses para que possamos cometê-los novamente... E viva a república, e viva a democracia...

vinicius gouveia disse...

ah! mas eu acho que o 'e ser esquecido.' não é o fim. eles volta depois de ser esquecido.

putz, ph, ta muito massa =D
parabens ^^

Anônimo disse...

o político admite que errou e fala no tempo, que ele há de passar.
ele sempre volta, é verdade e o povo esquece com o tempo.

tá muito bom o texto! ><
e com um monte de sensações...