quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Peixe cru.

Acordava todo dia às 5 da manhã. Olhava pro céu, ainda escuro, criava coragem e enfim levantava, como se estivesse pagando alguma penitência. Tomava banho, se vestia, comia e saía de casa, esperando nada mais do que havia esperado do dia que passou. Tinha um costume que preservava desde criança: olhava pela janela do carro a vida das pessoas, notava os mínimos detalhes, como se vestiam, como andavam, como eram seus olhares, e tentava imaginar a vida delas, casa, comida, filhos, irmãos, paixões, tristezas, amor. Mas ela não conseguia apenas observar, ela queria dar um jeito naquilo, porque ao contrário do que acontece com todos, os problemas dela eram o mesmo que suco de maracujá adoçado, mas os dos outros, ah sim, esses eram os que importavam. Seguia todo dia a mesma rotina, nada mudava, pessoas entravam e saíam, deixando tudo sempre no mesmo lugar, intacto. E ela? Ela chorava, ela sofria, mas sabia que a razão sempre era mais importante, e quanto aos seus sentimentos, que a vida os levasse pra onde quisesse, ela sabia que existiam coisas mais importantes que aquilo. Olhava para os outros não com um olhar de inveja, mas apenas desejando ser daquele jeito, ter uma vida com sal. Só que a vida nem se importava com isso, e que todos os dias fossem sempre os mesmos, sem gosto, sem forma, sem cor, que nem peixe cru.

3 comentários:

Bruna monteiro disse...

um bom exemplo de não um ser humano pensante e sim de um bípede falante, que não vive apenas existe, sobrevive. Bem descritivo e o ritmo nos passa bem como o cara se sente, sei lá, bem batida com vírgulas, todo parado, pausado, sem pressa. Por que o personagem nao tinha pressa de repetir o que fazia todo dia. adorei :D

lila disse...

li o texto e fiquei com vontade de sair observando cada pessoa que eu via e não conhecia. é interessante, imaginar o que aquelas pessoas são, o que elas sentem...
adorei :D [2]

Ju; disse...

gostei simplesmente.
não sei dizer pq.. mas gostei muito ^^
:*