segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

mudança no script


Naqueles olhos de piscina cristalizado, vidrado, parado, ele ainda pode ver a alma acolhedora que partira. No peito dela uma flor vermelha, com o centro um ponto pequeno preto metálico, ia se abrindo. Enquanto o corpo avermelhava por fora, empalidecia por dentro. Ele, com os olhos fundos e sem lágrimas, era paralisado pelo sentimento que lhe invadia, uma dor imensa que só quem realmente ama sabe o que significa. Enquanto o corpo empalidecia por fora, avermelhada por dentro.

A partir daquele dia, não haveria mais dia para ela, não haveria mais sentido para ele. Enquanto a morte lhe molhava tentando lhe dizer: " Levante-se, sua história não acaba aqui!" O líquido amarelado na garganta descia queimando. "Da minha história só sei eu!" E a cada cerveja tomada ele ficava mais sóbrio, mais sério.

O céu estava tão cheio de estrelas como ele nunca havia visto, ou seria seus olhos embaçados que via as luzes dos prédios, carros e postes pequenas lá da cobertura? Lá só o vento lhe dava os conselhos certos e em súbita conversa muda as palavras soavam só: " O que te prende aqui? O que te faz continuar?". Daria um passo a frente, para eternidade. Não podia esperar mais... E que não esperasse!

Naqueles olhos de piscina cristalizado, vidrado, mas não parado, ele ainda pode ver a alma acolhedora que não partira. No peito dela a flor já secara. E outra flor se formava lá embaixo ao redor de um corpo sem valor, e ao redor dele, vários corpos anônimos se amontoavam para ver o fim do espetáculo. Atrasados, não viram a apresentação toda, mas suas caras de espanto demostravam que se vissem a história inteira teriam gostado.
- Tão novo o rapaz...
- Por que tal desventura?
- Coitados da família!
- Que azar...
- Morreu de quê?
- Dizem que morreu de amor.

6 comentários:

Unknown disse...

tá bem construido :) morrer de amor é um tanto clichê, mas talvez não coubesse outra coisa ai; teve um clima suave de suspense, algo que seduz o leitor aos poucos, como uma pimenta num conta-gotas.

Bruna monteiro disse...

eu sei que tava cliche e não me vanglorio por isso. Umas das marcações é clichê. Eu tentei mudar, mas não me empenhei muito nisso. Então eu postei, aceitando crítica e sugestões.
Muito bom o pimenta num conta-gotas!=)

Ph disse...

Não achei o "morreu de amor" clichê.
Ela deu um novo sentido à expressão.

Na Feira Japonesa eu vi escrito "bloody rose" em algum lugar. Lembrei logo de tu. :}

Anônimo disse...

nemli, esfomeada

Bruna monteiro disse...

oi vítor-anônimo =)

Abelardo disse...

eu lembro dele, você melhorou :D
gostei, adoro a analogia da flor e a coisa de avermelhar fora e empalidecer por dentro. Concordo que seja um pouco clichê mas tá na moda. :*