terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Um borrão sobre o papel


Eu escrevo o que não se pode calar. Escrevo o que se diz, o que se ouve, e também o que se silencia. Escrevo o que não se pode dizer, e o que a imaginação não diz. Escrevo e tudo o que se materializa para fora da minha mente ganha o mundo, vai além de mim e de si. Escrevo e tenho espanto do que eu escrevi. Horrores e maravilhas que pintei na minha frente. Apago, mas se pode apagar o que já se estampou na veia do mundo? Está tudo tatuado aqui: no avesso da minha pele, onde o sangue que emana das agulhas só retorna para mim. É a força pela fraqueza. Porque o que escrevi, rejeitado ou não, já é maior do que eu e meu silêncio de moralizações, conveniências, senso comum, esteticismos banais. O que eu escrevi está vivo e arde, e por mais que eu tente apagar me encara de frente e diz: dôo. E de doer eu rasgo a pele e os papéis. Mas o escrito não morre.

2 comentários:

Ph disse...

"Apago, mas se pode apagar o que já se estampou na veia do mundo? Está tudo tatuado aqui: no avesso da minha pele, onde o sangue que emana das agulhas só retorna para mim."

Depois disso não dá vontade de ler, ver ou ouvir mais nada. A gente para e o tudo para com a gente. Eu parei de ler aqui. Só consegui depois de um tempo.

Fernanda, tá tão perfeito que a gente fica sem ação. Tá infinito.
Acho q dá pra matar com esse texto.

Talvez eu não devesse comentar nada, o silêncio talvez falasse muito mais... não sei.

Bruna monteiro disse...

Acho q dá pra matar com esse texto.
[2] tá tão intenso, tão denso, tão vivo.